o texto não é meu mas poderia ser

Não consigo perceber a polémica em torno da música que vai representar Portugal no Festival da Canção. A música é óptima.

Eu acho que todas estas razões são mais que válidas para que tenha sido a canção/performance vencedora:

- A música começa com um Uauaueeeuaueeee. Esta expressão tão tipicamente portuguesa que quer dizer "olha para mim, toda badalhoca".

- Tem bailarinos de calças de cabedal justas que exibem uma coreografia digna do Finalmente nos anos 80.

- Tem um gajo a fingir que toca djambé com pinturas no corpo feitas por crianças autistas (deve ser um projecto de solidariedade social e acho muito bem).

- O compositor é o Emanuel, esse génio, esse mestre em vender merda sonora disfarçada de música. Só podia correr bem.

- A letra é complexa e profunda: "Eu quero ser tua, ooohooohooo". Aliás, louve-se este arriscar na letra porque ainda assim há portugueses que podem não a conseguir interpretar. É bom desafiar o intelecto do povo.

- Ela chama-se Susy. Não é Joana, não é Matilde, nem sequer é Susana. É Susy. Com um nome destes, nasceu para ganhar o festival da canção. Ou para virar frangos numa churrasqueira. Calhou ganhar. Felizmente para todos, claro.

- Ela canta um bocado como a Ana Malhoa, acaba as frases com aquele gemido labrego, e quem segue as pisadas da Rainha da Javardeira está sempre no bom caminho.

Esta música não é nada desprestigiante para nós. Não nos envergonha absolutamente nada. Aliás, quase que choro de orgulho.
Afinal, é aquilo que nós pedimos, é o que os portugueses querem e gostam.

A estupidificação, além de dar muito menos trabalho a quem consome, rende muito mais a quem produz. E nada é tão meritório como encher os bolsos com a estupidez alheia.